Dia desses uma epifania me estreitou. Aperto repentino, egrégia de quem se arrisca na escrita, como galho seco cutucando fogo. A estreiteza, não confundir com miopia, de que é preciso repovoar o subsolo. Quem mexe com palavras deve, antes de tudo, mexer com as próprias entranhas. Induzir antes de eduzir: o subsolo: o subconsciente: a metanoia: a narrativa: a contradição: qual seja.
O mundo: o hiper mundo: não basta estar, nasce-se (ou avassala-se) hiper conectado, hiper informado, hiper serviente, hiper estratificado, hiper multimidia, hiper sintético e hiper afadigado, mundo da ditadura dos likes, dos perfis, dos influenciadores, das relevâncias (de irrelevâncias), a proatividade do esgotamento precisa de uma contracorrente. Precisa de:
Uma ruptura.
Ruptura que, tão e coletivamente, aqueles que vivem de reorganizar (ou desorganizar) palavras e letras em narrativas de ficção, e convivem com as traças em suas estantes, têm potencial para tanto. O(a) escritor(a) não só precisa repovoar o subsolo, como tem a obrigação moral e revolucionária de o fazer através da ruptura.
Não uma ruptura institucional, social ou cultural. Não necessariamente. Mas uma ruptura de presença. Uma ruptura com a verticalização. Uma ruptura de êxodo.
Êxodo de um zeit cosmopolita, conectado, urbanizado e idiotificado para um zeit anacrônico. Pois é fato, o subsolo é o subsolo da carne, do neo-caipira, do anti-wikipedia, do telefone fixo, do pé de caju, daqueles que cantam o próprio quintal. O universo reside no átomo (na partícula ínfima), não na energia, no universo macro, mas, sim, no micro.
A mola já está por demais esticada, é hora do big crunch, big bang já decaiu faz tempo. E o primeiro movimento é a inédia digital. Total abstinência das fazendas e senzalas zuckerberguianas, bezosnianas, pichainianas, yimingnianas, dentre tantos outros neocolonizadores.
O futuro não está na terraformação de Marte, mas no subsolo do nosso quintal – na erva daninha.
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